O perigo da articulação em rede na campanha eleitoral

30/08/2022 - AUTOR: Luciana Moherdaui

 

Em entrevista à “Folha de S. Paulo” (https://bit.ly/3crnA7E), Thomas Shannon, ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, observou que Jair Bolsonaro (PL-RJ) e sua equipe estudaram as estratégias do republicano Donald Trump e alerta para o risco de o presidente questionar as eleições, com intuito de repetir o 6 de janeiro de 2021.

Com milhares de seguidores em redes sociais e participação em grupos de comunicação instantânea, há preocupação de Bolsonaro incitar seus apoiadores a não reconhecer o resultado do pleito – o primeiro turno está marcado para o próximo dia 2 de outubro – e se organizarem em torno de uma quebradeira institucional.

Embora pouco se acredite em uma ação bem-sucedida, pois Bolsonaro precisaria de apoio para colocar em prática seu plano, existe um temor a respeito de uma articulação em rede amplificar a incitação ao ódio e à violência. Pesquisa divulgada por “O Estado de S. Paulo” mostrou que mortes por intolerância política no Brasil já superam as de quatro eleições nacionais desde a redemocratização (https://bit.ly/3yW67vO).

De acordo com o levantamento, homicídios por divergências ideológicas ficaram mais frequentes a partir de 2018 – somente neste ano, o número assassinatos por essa motivação somam 26. Nas eleições de 2020, foram registrados 16.

A dúvida é se os crimes irão escalar, a exemplo do ocorrido no Capitólio, na era Trump, nos Estados Unidos.

Como bem lembrou o ex-embaixador Shannon, nos Estados Unidos, Trump fracassou porque dependia de uma multidão pouco disciplinada, sem amparo de lideranças partidárias, tribunais e Forças Armadas.

No Brasil, o presidente Bolsonaro mantém ativo perfil no Twitter, apesar de ser espalhar desinformação, sobretudo a respeito das urnas eletrônicas e da Covid-19. A rede social marca eventualmente seus posts. Por essa razão, há a desconfiança de, como mencionou o ex-embaixador Shannon, mimetizar Trump.

Auxiliares de Bolsonaro, ao aumentar a pressão para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acate sugestões de militares sobre as urnas, dizem “que bastaria um breve recado dele pelo WhatsApp para bolsonaristas promoverem distúrbios como os vistos nos Estados Unidos. Na avaliação deles, o cenário é de consequências imprevisíveis”, segundo o  “Estadão” (https://bit.ly/3bEYi67).

O alerta, com tom de chantagem, indica que uma ação belicosa está nos planos do presidente da República. Sabe-se que sua rede de articulação é afluente e sólida. Que o Twitter não espere outro descalabro para agir.

A oposição reconhece a artimanha. “Bolsonaro detém o poder da máquina, conta com um generoso tempo de TV, que não teve em 2018. Também vai muito bem nas redes. Melhor que nós, afirmou em entrevista a Páginas Amarelas, da Veja, o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ).

Os embates e as trocas de farpas, porém, não se restringem aos bolsonaristas.

No primeiro debate realizado entre presidenciáveis pela “TV Bandeirantes” no domingo, 28, o deputado federal André Janones (Avante-MG) partiu para cima do correligionário do atual mandatário, o ex-ministro Ricardo Salles. Seguranças e integrantes das duas campanhas tiveram de interceder. A provocação foi calculada. Com a câmera do celular ligada, o parlamentar gravou a discussão (http://glo.bo/3ToyHzi).

O presidenciável Ciro Gomes (PDT-CE) também usa a beligerância em sua campanha. Mas não adota como estratégia a disseminação de notícias falsas. O tom é centrado em ataques contundentes a seus adversários, com uma estética nas redes sociais voltada principalmente ao público jovem.

Levantamento de “O Globo” (http://glo.bo/3AWBh8E) mostrou conteúdos falsos produzidos pelas campanhas do PL e do PT para viralizar no TikTok.

“Um deles sugere que a facada no então candidato Jair Bolsonaro (PL), em 2018, não ocorreu; outro afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se eleito, vai acabar com o Pix”. De acordo com o jornal, “30 vídeos envolvendo as eleições acumulam cerca de 15 milhões de visualizações, além do alcance desse material compartilhado fora do aplicativo”.

A troca de comando do TSE, com o ministro Alexandre de Moraes na presidência, aumentou a expectativa de punições a quem produz informação falsa, incita violência, ataca o Estado Democrático de Direito e ao abuso de autoridade.

Espera-se efetiva aplicação das sanções, para além dos inflamados discursos proferidos no Tribunal.

*Jornalista, Pós Doutora pela USP. Estuda os impactos da internet na sociedade contemporânea há 26 anos. É pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP) e autora de “Guia de estilo web – Produção e edição de notícias on-line” e “Jornalismo sem manchete – A implosão da página estática”.

#discursopolítico #discursodeódio #eleições #redessociais

As opiniões e visões dos autores são independentes e não necessariamente estão de acordo com a visão do portal NomuseLocus. Os autores compartilham os conceitos das reputações virtuosasintegradoras defendidas pelo NomuseLocus e a plataforma T.academia.

Acesse nossa rede

 

Pesquisa Nº 1

QUESTAO:

“Você já enfrentou situações nas quais você não foi respeitado? Se positiva. O desrespeito é mais usual em que ambiente de seus relacionamentos cotidianos?”.


Resultado:

SIM – 100%


ONDE?

60% - Sociedade em geral

100% - Ambiente de Trabalho

80% - Nos espaços públicos

50% - Pelo Estado

30% - Nas instituições de ensino


Quer conhecer mais detalhes da pesquisa? Acesse e baixe a 1ª edição da NomuseLocusMagazine.