Como conceituar Reputação em tempos de conflito e polaridade política

12/09/2024 - AUTOR: Ana Lúcia De Alcântara Oshiro

 

A palavra reputação tem muitos vieses. Eu passei a me interessar pelo tema já há mais de 30 anos quando, no atendimento a gestores de algumas empresas, percebia dissonâncias comportamentais e posturas que tinham muito da herança pessoal de cada um e eram difíceis de serem orientados.

Da curiosidade e observação surgiu o estímulo para retomar aos bancos universitários no final dos anos 90 e de lá para cá tornei-me acadêmica, pesquisadora e exploradora do “termo” reputação, seus indicadores e interpretações variadas dos sujeitos sobre as variáveis do conceito reputaçõesvirtuosasintegradoras que geram renda, evolução, coerência e, principalmente, diálogo e formam ciclos virtuosos – onde se inserem as organizações virtuosas do século 22.

Muitas das dissonâncias que venho observando nesses anos estão relacionadas com a vaidade, o orgulho pelo poder detido e, principalmente, um excesso de desejo de exposição que nos anos 80 e 90, com tantas opções de espaços jornalísticos disponíveis a serem explorados era “um prato cheio” para tal demanda vaidosa. Hoje, com menos espaços, a vaidade extrapolou as fronteiras da simples exposição da notícia e do fato organizacional. Pode-se construir notícias e disseminá-las por milhares de canais.

Porém, alguns desses gestores (alguns já aposentados ou já repassaram seu posto aos filhos, netos ou a novos gestores), muitos fundadores das empresas, empreendedores que se tornaram líderes em seus setores naqueles momentos, eram pessoas especiais. Especiais, pois tinham, em seus espíritos, características que ao longo dos últimos 30 anos, com a proeminência das falas dos sujeitos do setor financeiro foram desaparecendo ou esvaziados. Gostaria de procurá-los e encontrar. Essa tem sido minha busca (quem conhecê-los me informem, quanto mais exemplos concretos para referências, melhor para o futuro).

Aqueles líderes eram humanos. Sim, humanos; construíram impérios, mas, acima de tudo, tornaram-se, para seus guerreiros, referências a serem seguidas. Professavam quase que uma doutrina, baseada em valores como companheirismo, lealdade, afetuosidade, comando, autoridade quase que fraterna. Eles amavam seus liderados, estavam juntos a eles, davam-se as mãos no cotidiano da empresa. Poderia citar variados nomes nesse espaço, mas não seria justa com todos.

Naqueles tempos, a relação deles com a imprensa era respeitosa. Havia, acima de tudo, uma relação de independência e de extremo respeito para com o jornalista. Era, para eles, uma virtude tornar-se fonte de um jornalista. Naqueles tempos criava-se uma simbiose amigável, de confiabilidade pela verdade - o conhecimento de um na complementação da busca pela informação e esclarecimento do outro; e do outro, na certeza de que, pela relação estabelecida, o laço a ser formado era, essencialmente, a confiança na verdade da informação obtida.

Bem, os tempos mudaram, o acesso à informação ampliou-se, o espaço entre o emissor e o canal da informação tornou-se aberto e a verdade passou a estar diretamente orientada pela extrema visibilidade...a opinião válida passou a ser àquela que se destaca como verdade no grupo ou tribo de iguais seja na ideologia, informação, conceito etc. - que a professa.

Nessa “tribalização” e universos variados de verdades professadas e na ampliação das falas é onde nos encontramos no contexto atual. E é nesse cenário que se amplia, em contrapartida, a excessiva polarização, onde o discurso político é o maior constituidor. Qual o risco desse cenário?

Dados recentes já apresentados por variadas instituições e bem divulgadas nos órgãos de imprensa – sim, porque imprensa é constituída por jornalistas, profissão que exige estruturação e conhecimento técnico, especialista e vivência em redação para que seja construída a experiência do fato, do cotidiano social (é nesse espaço que o jornalismo atua e se torna o maior agente da democracia) e do saber do locus informativo. O compromisso desse especialista deve ser único: a verdade e o seu leitor - sem isso, não existe credibilidade ou se estabelece confiança.

O respeito à atuação do profissional é balizar na definição de estratégias de marketing e comunicação que contemplem a relação com essa especialidade de público. Será que para o negócio ele é essencial? O método de definição de públicos do professor Dr. Fabio França no meu entender é a melhor conceituação e a mais adequada para uma organização em tempos contemporâneos.

Expor-se, comprometer-se, falar, opinar, posicionar-se, aliar-se, professar causas, propósitos, mensagens, lados, inserir-se, aliar-se a “tribos” ou grupos ou sujeitos externos ao locus e ao nomus da organização significa dispor de total segurança e controle de todas as facetas dos vícios e paixões presentes no cenário humano e complexo, no qual previsibilidade e certezas inexistem ou se distorceram.

No contexto atual de escassez de líderes virtuosos – engajadores, inspiradores, afetuosos, respeitosos e corajosos, íntegros e coerentes e que necessitam ser formados para a competitividade do negócio em tempos de Compliance, ESG, Sustentabilidade e compromisso com o futuro– o risco de exposição ou atendimento às demandas da vaidade significa perda do maior ativo e de maior comprometimento em tempos de volatilidade, complexidade e de economia de dados.

Se naqueles tempos tínhamos o controle da mensagem, canal e do receptor (responsável pelo desencadeamento da informação e da mensagem distribuída), em tempos de superexposição das falas e de foco na racionalidade dos números, cautela e gestão da coerência são essenciais para minimizar riscos – que estão ali, tenham certeza, escondidos e só são percebidos quando a crise chega. E, crise, não pode ser controlada – minimizada talvez, mas ela fica no cantinho, bem escondida!

Estamos em um momento crítico, conforme a fala de veterano jornalista e escritor Maalouf Amin (explorado em nosso estudo da próxima edição a NomuseLocus Magazine, em lançamento amanhã, dia 01 de setembro, às 19 horas, na mesa redonda Afeto x Ódio – vícios e virtudes*).

Reputação não é apenas uma estratégia de imagem corporativa, vai muito, muito além e tem relação com cada indivíduo, fala, comportamento, valores e coerências gerais, organizacionais, individuais, das lideranças e das relações mantidas.

Profa Dra Ana Lúcia de Alcântara Oshiro

Doutora, Mestre e Especialista em gestão de negócios e marketing. Atua há 40 anos no mercado. Liderou as áreas de marketing e comunicação de empresas do setor de TI, atuou como jornalista especializada em negócios e TI, fundou a Tática Comunicação. Foi professora em cursos de graduação e pós-graduação em marketing, comunicação e TI. Criou o projeto T.Academia /NomuseLocus de estudo, pesquisa, informação, disseminação e desenvolvimento em práticas de lideranças, indivíduos e organizações em reputação virtuosas que integram. analucia@tacademia.com.br analucia@nomuselocus.com.br

#reputação

#riscoreputacional

#estrategiareputacional

#liderançasvirtuosas

#polarizaçãopolitica

Acesse nossa rede

 

Pesquisa Nº 1

QUESTAO:

“Você já enfrentou situações nas quais você não foi respeitado? Se positiva. O desrespeito é mais usual em que ambiente de seus relacionamentos cotidianos?”.


Resultado:

SIM – 100%


ONDE?

60% - Sociedade em geral

100% - Ambiente de Trabalho

80% - Nos espaços públicos

50% - Pelo Estado

30% - Nas instituições de ensino


Quer conhecer mais detalhes da pesquisa? Acesse e baixe a 1ª edição da NomuseLocusMagazine.