A cidadania, o voto como mercadoria, a consciência política e o movimento vicioso da desconfiança nas instituições
No entanto, apesar da evolução na conscientização sobre a importância dessas práticas, há uma diferença significativa na maturidade sobre como as empresas lidam com o ESG.
Algumas adotam programas sólidos e baseados em evidências, enquanto outras não compreendem totalmente a relevância desse conceito. Há também aquelas que adotam uma abordagem superficial, focando mais na imagem do que nos resultados concretos, sem perceber os benefícios que poderiam colher ao levar essas práticas mais a sério. E vale destacar que este ESG de aparência morreu.
A realidade do ESG nas organizações é complexa e envolve diferentes níveis de comprometimento. Podemos separá-los em três perfis principais de empresas: as que lideram o movimento por consciência e convicção, as que seguem após serem convencidas por resultados de mercado e as que implementam ações por coerção ou constrangimento, seja devido a pressões legais, acordos com autoridades governamentais ou exigências de clientes, parceiros e investidores.
O problema acontece quando as ações realizadas são desconectadas da estratégia corporativa e desprovidas de substância. Por exemplo, uma empresa que decide eliminar o uso de copos plásticos em seus escritórios pode não estar contribuindo significativamente para a sustentabilidade se, ao mesmo tempo, continua a poluir e gerar altos níveis de carbono. Para que as práticas ESG sejam eficazes, elas devem estar alinhadas à estratégia do negócio, ter foco no resultado e estarem conectadas.
Nesta jornada, os passos fundamentais incluem a realização de um diagnóstico detalhado, com benchmarking e a elaboração de uma matriz de materialidade, que identifica as questões mais relevantes para a empresa, e para os seus stakeholders, considerando pontos que envolvem colaboradores, clientes, fornecedores, comunidade e outros. O mapeamento de riscos ESG também é fundamental. A partir destas informações, elabora-se o plano de ação da jornada de sustentabilidade.
Surpreendentemente, muitas empresas que afirmam ter o ESG no DNA, não têm este desenho, o que evidencia a falta de direcionamento estratégico em suas ações. Além disso, muitas organizações não têm os riscos climáticos devidamente mapeados, o que pode resultar em despreparo diante de cenários extremos, como vimos recentemente no Rio Grande do Sul com a enchente que destruiu o Estado, ou com a seca e baixa dos rios na região Norte do Brasil.
O erro comum é acreditar que ações isoladas de responsabilidade socioambiental ou filantropia são suficientes para se considerar uma empresa ESG. Pelo contrário, o sucesso depende da integração e interdependência dos três pilares: Ambiental, Social e Governança. E vale lembrar que muitas vezes o programa falha por falta de governança.
Empresas que tentam competir com outras sem entender que o ESG está intrinsecamente ligado à experiência de mapear riscos e oportunidades, e tomar decisões de negócio, correm o risco de ficar para trás ou mesmo deixar de existir. Os empreendedores e líderes que compreendem essa essência, no entanto, têm mais chances de prevenir e superar crises, inovar, diversificar receitas, otimizar custos, desenvolver uma visão de longo prazo, criando negócios resilientes.
Um exemplo interessante é de uma empresa europeia que utilizou sabonete como recipiente de xampu, permitindo que ao término do produto a própria embalagem possa ser utilizada, gerando menos resíduos, agregando valor ao produto e obtendo ganhos financeiros. Essa abordagem inovadora e sustentável demonstra que, ao integrar essas práticas, é possível pensar de forma diferente, gerando lucro e impacto positivo.
Embora pareça que andamos pouco nessas questões, é evidente que o conhecimento sobre ESG está em crescimento. Mas, ainda há um longo caminho a percorrer, especialmente no que diz respeito a elevar o nível de maturidade das empresas fortalecendo essas práticas. E certamente as legislações, como as europeias, e as normas, como o IFRS S1 e S2, impulsionarão o compliance sustentável através da regulação.
Para construir laços de confiança, é essencial que as empresas atuem com transparência e governança, buscando gerar lucros com impacto positivo e a responsabilidade socioambiental. Um movimento importante nesse sentido é o Sistema B, que reúne empresas comprometidas em trazer benefícios tanto para os negócios quanto para os stakeholders. Embora essa abordagem possa parecer utópica para alguns, há exemplos práticos de sucesso, como a Dengo, empresa brasileira de chocolates que adota práticas justas e conscientes com a sua cadeia de fornecimento.
O sucesso no mundo corporativo não depende apenas de seguir as tendências de mercado, mas de entender a essência do ESG e integrá-lo de forma genuína à estratégia da empresa. Trabalhar para construir um novo futuro, sem ignorar os riscos e desafios, é a chave para o sucesso a longo prazo.
*Jefferson Kiyohara é diretor de Forensics & Integrity | Compliance e ESG da Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG, auditoria interna, investigação e proteção e privacidade de dados.
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