A cidadania, o voto como mercadoria, a consciência política e o movimento vicioso da desconfiança nas instituições

24/09/2024 - AUTOR: ALA.Oshiro

 

Dos anos de 1980 até os atuais passamos por interferências e até o ano passado vivenciamos ainda um risco de um sistema político autoritário. E, mais uma vez provamos que essa democracia, graças à união dos poderes e do sistema judiciário brasileiro embora delicada se constitui por pilares fortes.

Porém, recentemente uma pesquisa coordenada pela professora Dra Rita Biason para o Instituto Não à Corrupção trouxe um cenário alarmante, senão assombroso. Ela apresenta alguns dados que assustam como, por exemplo, a presente comercialização do voto em troca por recompensas financeiras, benefícios ou privilégios. Segundo essa pesquisa, o valor médio da venda, comercialização dessa já mercadoria, gira em torno de R#$ 140,00. Se imaginarmos que esse valor circula em torno dos 10% do valor do salário-mínimo no Brasil, que representa a renda dos 60% os brasileiros, esse cenário se torna preocupantes.

Por quê? Significa que é facilmente mercantilizável o voto no Brasil, por variados fatores: essa população representa a maioria do povo brasileiro que se encontra em situação de exclusão econômica, é aquela com maior dificuldade no acesso aos serviços públicos, bem como que possui pouca ou muitas vezes nenhum acesso a informações básicas fornecidas pelo Estado, cujos acesso aos canais de comunicação disponíveis são de difícil acesso e entendimento, que nos últimos anos priorizaram os canais digitais em detrimento das campanhas informativas públicas em TVs abertas e jornais pequenos, locais.

O sistema político brasileiro e a consciência da prática cidadã passou ao longo da história por processos de retrocesso em várias fases. Desde a 1ª Constituição brasileira, no final do século 19. Apenas na primeira década do século 20 a mulher passou a ter direito ao voto. De lá para cá inúmeros foram os processos do sistema político.

Com a redemocratização do país no início dos anos de 1990, esse movimento, a retomada de inúmeros ativistas políticos do exílio o movimento informativo e de disseminação dos valroes democráticos se espalharam e abriu-se espaço para a participação política e cidadão em diversas ações, seja pela reuniam em grupos de participação, pela expansão de vários partidos, leis que foram sendo apresentadas com o foco na inclusão, de leis mais diversas como contra o preconceito racial, a inclusão e igualdade de direitos de gênero, entre outras.
 

Recentemente, o escândalo da Lava Jato e a criminalização de políticos, empresas e práticas de corrupção aumentaram essa participação e um espaço para a a importância da conscientização democrática ampliou-se.

Porém, com a subida ao poder de um executivo reacionário que preconizava os valores do autoritarismo, da desinformação e o acesso á informação, a políticas de inclusão e diversidade e priorizou a disseminação desses paradigmas essa consciência         diminuiu, talvez pelo próprio descrédito na classe política gerado por esses discursos.

Atualmente temos alguns dados que chamam a atenção e que são vícios que necessitam urgentemente ser extirpados do locus do espaço social. Dentre estes: o discurso de ócio e separatista; a descrença no poder público bem como em seus gestores e legisladores.

Em reportagem apresentada em 2020[1], a pesquisadora e cientista política Argelina Figueiredo expõe que: “muitas vezes os eleitores não conseguem identificar políticos que correspondam às suas próprias ideias. "Hoje é mais difícil se determinar questões ideológicas, pois entram em conta várias outras questões, em princípio 'não ideológicas', que ligam as condições socioeconômicas das pessoas”.

Nesse embate e disfunção discursiva dos políticos e gestores gera-se a desconfiança e o que passa a modelar as atitudes, infelizmente, é extamente aquele sentimento de frustração pela dificuldade em dispor de informações, acesso aos serviços públicos que impactam o cotidiano de cada cidadão, entre outros e nesse instante passa a prevalecer o sentimento passional onde narrativas ideológicas garantem o pesar na balança mais para o lado das ações de revanchismo e descrença.

Esse contexto de desconfiança, um ciclo vicioso ao contrário dos ciclos virtuosos das reputações virtuosas é muito preocupante. Se formos visualizar dados divulgados pelo Instituto DataFolha de março de 2024, que procurou medir junto a 2002 eleitores o nível e confiança/desconfiança em relação ao Congresso brasileiro, o contexto apresenta-se preocupante. Veja 

Ou seja, 40% dos brasileiros não confiam no órgão publico que define as leis no Brasil – Congresso Nacional, 49% confiam pouco e 10% não confiam. Em paralelo, quando a pesquisa busca “cenarizar” os índices de confiança nas instituições brasileiras, nenhuma delas apresenta índice de confiança total - ou seja, todas as instituições no Brasil estão em situação de risco no resultado do ciclo reputacional virtuoso – aquele que gera ciclos evolutivos, de desenvolvimento, cidadania e de futuro para um povo.

Essa semana o Banco Central liberou comunicado em relação à sua política para os juros no Brasil, apresentando tendência de alta nos próximos meses. Vivenciamos no mercado e na sociedade um processo de perda de credibilidade tambem em relação às projeções para o futuro. Economia e Sociedade não são entidades separadas – elas caminham em sintonia. Em 2015 quando apresentamos nossa pesquisa em relação à interpretação e Reputação pelos indivíduos – tanto mercado quanto sociedade – o ponto crucial foi a coerência, tendo como parâmetros essenciais a Credibilidade, a Transparência entre outros. Esses últimos deram como foco final, a confiança.

Se pegarmos esses dados e compararmos com o afastamento dos brasileiros em relação às instituições podemos, empiricamente, concluir que temos um cenário claro das razões que nos levaram a esse contexto de mercantilização do voto, desconfiança.

A professora Rita, (veja aqui no nosso portal, no Encontro da semana no quadro virtuosidades) expôs que a questão da dissonância de consciência e responsabilidade entre o mercado – empresas – e a gestão pública, passa, principalmente pela visão de curto prazo, ou seja, a cada troca do poder político o planejamento é alterado e normalmente ele passa a ser orientado pelos coletivos mais poderosos de poder. Acredito que essa inconsistência e dissonância precisa urgentemente passar pelo alinhamento dos atores envolvidos e responsáveis pelas decisões, ou seja, nós sociedade pelo amadurecimento da responsabilidade individual e coletiva, quanto gestores e políticos que são escolhidos graças ao voto. Precisamos retomá-lo como cidadão são seu real locus – não o do mercado e sim da prática e consciência cidadã.

#cidadania, #confiança, #credibilidade, #corrupção, #eleição, #voto, #reputaçãovirtuosaintegradora

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Pesquisa Nº 1

QUESTAO:

“Você já enfrentou situações nas quais você não foi respeitado? Se positiva. O desrespeito é mais usual em que ambiente de seus relacionamentos cotidianos?”.


Resultado:

SIM – 100%


ONDE?

60% - Sociedade em geral

100% - Ambiente de Trabalho

80% - Nos espaços públicos

50% - Pelo Estado

30% - Nas instituições de ensino


Quer conhecer mais detalhes da pesquisa? Acesse e baixe a 1ª edição da NomuseLocusMagazine.